Arte da Memória [Sao Paulo 2001] Imprimir E-mail
Hoheisel & Knitz


International Kolloquium »Arte Da Memória«, Goethe Institut Sao Paulo
Workshop at the University MariAntonia, Sao Paulo






Result of the Workshop: closed Memory-Container - Dodecaeder




Closing the Dodecader





Memorial sobre Workshop – Fragmentos de memória


O objeto que escolhi para representar minha memória da cidade foi uma foto, tirada quando eu tinha 5 ou 6 anos junto com meu irmão na Praça da Sé, que é o coração do centro antigo da cidade de São Paulo. Trata-se da única foto que possuo dum lugar público da cidade. Contudo, eu não me lembro deste dia.
Agora, por ocasião do workshop, voltei ao local da foto. Mas nenhuma lembrança surgiu em minha memória, não experimentei nenhuma mémoire involuntaire. Na verdade, o punctum dessa fotografia é o homem que estava por trás dela, fotografando: meu avô. Ele era um imigrante italiano que chegou no Brasil no início do século XX e que como tantos outros imigrantes ajudou a construir a cidade. A história da imigração mescla-se à história da cidade.
Entretanto, a história de São Paulo parece soterrada debaixo dos edifícios, muitos dos quais já foram destruídos e reconstruídos. Acredito que as pessoas que nasceram nesta cidade, como é o meu caso, têm uma memória muito particular de seu espaço. Não há espaços públicos, não há memória pública, apenas fragmentos de inúmeras memórias pessoais. Essa parece ser a memória de São Paulo.
Não há monumentos expressivos. Nos feriados a cidade fica vazia. Não há comemorações públicas. As pessoas sempre parecem estar de passagem, apenas trabalhando. Quando acaba o horário de trabalho voltam para suas casas e seus mundos particulares.
Também o negócio transforma o coração da cidade. Pois algo incrível acontece em São Paulo. O centro financeiro migra de tempos em tempos, abandonando o espaço antes ocupado pelas grandes empresas à decadência e à ruína, ocupando novos espaços que logo serão abandonados.
»La forme d'une ville change plus vite, hélas! Que le coeur d'un mortel«, já dizia Baudelaire. Onde está o coração de São Paulo? Onde está meu coração em São Paulo? A folha branca transparente cobre meu pentágono. Através dela deixa-se entrever os vestígios da memória.
Taisa Helena P. Palhares


Enquanto durou o workshop na Maria Antonia muitas coisas aconteciam ao nosso redor. Parecia que algo tinha vindo transmutar uma situação de estagnação que subitamente foi jogada diante de nós. Algo previsível mas ainda assim totalmente inesperado.Todos estávamos em estado de choque e perplexidade com os trágicos acontecimentos em que mais uma fronteira do espírito humano se via atingida de maneira brutal e ainda assim profundamente apaixonante. Com nosso pequeno pentágono debaixo do braço saímos por aí buscando alguma coisa que também desafiava certas fronteiras. Nossas próprias fronteiras, tentando encontrar para além delas algo de cada um de nós mesmos para partilhar, para trazer à tona uma nova história. Como diziam os antigos Maias, »eu sou um outro você«. Era o que, mais que tudo, queríamos dizer naquele momento.
tínhamos um objeto para servir de chave que nos conduzisse para o presente,de algum lugar perdido, feito apenas de lembranças. Não se tratava de nenhum fato extraordinário ou coisa do tipo… a não ser o de que tínhamos estado lá um dia e estar vivos já não seria uma razão forte o bastante ? Será que conseguiríamos ser simples e verdadeiros. Isso foi algo valioso para mim: a consciência de que não há monumento nenhum a ser construído por nossas ações, que nenhuma verdade é maior ou mais importante. Ou melhor, »meia-verdade«, pois é só o que representam nossos pontos de vista.
Descobri que grande transformação seria assumir as consequencias de meus atos fazendo aquilo que me pareça mais verdadeiro sem tirar conclusões que nos impedem de ser nós mesmos muitas vezes. Para mim era isso que vinha reclamar o caminho a que conduziu a minha chave pessoal do passado.
André Luiz Yassuda



Uma pessoa – eu : Síssi Fonseca ou Ecilze Rosa Fonseca.
Meu pai : Esdras Rosa Fonseca.


Ele – estudou no Liceu de Artes e Ofícios. Lá há décadas atrás faziam-se monumentos históricos, artísticos, móveis, complementos arquitetônicos, lá faziam-se memórias fundidas.
No Liceu fez-se um monumento, para mim, especial. No Liceu meu pai ajudou a fazer uma memória, uma estátua, um monumento - Duque de Caxias, montado em seu cavalo, que está lá na Praça Princesa Isabel, em São Paulo.
Fez a pata do cavalo, fundiu uma memória, passou-me uma memória, e hoje eu me reparto e reparto fotos, visitas, cheiros, histórias, sons de patas de cavalos, dos pés das pessoas, das flores.
Reparto talvez a falta da memória de alguns. Reparto minha memória desta cidade, do meu passado, das minhas histórias, das minhas sensações.
Mais que monumentos e a memória pública, fica a memória de tempos do meu pai, a memória afetiva, da memória dele que já é minha.
Fiz visitas, fotografei, colhi pegadas numa madeira, colhi uma flor, comprei postais, achei redes e vou juntar [já juntei…] tudo na memória [e numa performance] … pelo menos na minha.
Síssi Fonseca




Do que posso me lembrar em São Paulo?


Lembro-me de minhas viagens para cá, quando eu, pequeno, vinha visitar meus avós. Lembro-me da chegada na cidade grande, dos barulhos, dos sons das ambulâncias ouvidas ao adormecer no quarto do apartamento de minha avó.
Lembro-me de minha avó.
Lembro-me quando eu, pequeno, ajudava-a a separar as folhas de uva para o charutinho. Lembro-me do quibe, dos cheiros, da máquina de moer carne e seu ranger sobre a mesa de fórmica rosa.
Será que era mesmo rosa?
Lembro-me do café para São Benedito, das rezas para São Judas e de tantos outros carinhos santos.
Lembro-me de minha avó, de suas mãos gordinhas e de seu cabelo fofo e branco como algodão doce.
Lembro-me das balas sete-belo cor-de-rosa que minha avó sempre escondia no mesmo armário, no mesmo pote de cristal e que nós, netos, adorávamos descobrir, fingindo desconhecer o secreto esconderijo.
Lembro-me de minha avó.
Lembro-me de sua morte, no dia do meu aniversário.
Minha avó chamava-se Rosa.
Será que era mesmo, Rosa?

Hugo Fortes





Memoria


Memoria coletiva
cidade de Sao Paulo - Brasil
Brasil de busca historica por sua identidade
buscas/debates acerca da raiz nacional
das raizes
pluralidade/diversidade nacional
país de contrastes
pais de ausencias
ausencia de sua propria memoria
lacunas evidentes
objetos ausentes.
Numa caminhada pelo centro de Sao Paulo,
um olhar em busca do ausente
quando identificado, preenchido.
A raiz nacional - a mandioca - preenchendo a lacuna do objeto ausente
Ação registrada [fotografia]! mandioca retirada! ausencia retomada?
Marcelo Berg